Urbanização e falta de qualificação aceleram a digitalização do campo, enquanto produtores buscam reter trabalhadores com melhores condições e capacitação
Por Felipe Machado
O agronegócio, responsável por cerca de 20% do PIB nacional, enfrenta um desafio cada vez mais evidente: a escassez de mão de obra qualificada. De acordo com a CNA (2018), a dificuldade é dupla, envolvendo quantidade e qualidade. Enquanto a urbanização reduz o número de trabalhadores dispostos a permanecer no campo, as demandas crescentes por sustentabilidade e tecnologia exigem profissionais mais especializados. O fenômeno não é exclusivo do Brasil. Dados da FAO apontam que, desde 2010, há mais pessoas vivendo em áreas urbanas do que rurais, tendência que deve se acentuar até 2050.
Diante desse cenário, a automação e a inteligência artificial (IA) têm se consolidado como alternativas estratégicas para manter a competitividade do setor. Segundo pesquisa realizada pela PwC e divulgada pela CNN Brasil (2025), 38% dos CEOs do agronegócio relatam preocupação extrema com a falta de mão de obra qualificada, enquanto 61% acreditam que a IA será responsável por impulsionar os lucros das empresas já nos próximos 12 meses. Ainda que apenas 17% tenham reduzido seus quadros de funcionários devido ao uso de IA, a tendência é que a produtividade se torne cada vez mais dependente da integração entre tecnologia e profissionais capacitados.
Esse movimento já se reflete na prática. Segundo reportagem da Exame (2024) mostra que máquinas autônomas, drones e sistemas de visão computacional vêm substituindo tarefas manuais em diferentes etapas da produção agrícola. Startups como a belga Robovision têm desenvolvido plataformas que simplificam o uso de deep learning, tornando a automação acessível até para empresas sem expertise tecnológica. Essa digitalização, porém, exige operadores qualificados para interpretar dados e manter os sistemas, reforçando a ideia de que tecnologia e mão de obra especializada devem caminhar juntas.
Na pecuária, o problema também se manifesta. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa (2025), a escassez de profissionais qualificados compromete o manejo do rebanho, aumenta riscos sanitários e eleva custos de produção. Em resposta, produtores investem em sistemas de ordenha robótica, sensores e softwares de gestão, tecnologias que reduzem a dependência de trabalhadores, mas que ainda demandam capacitação para seu uso eficiente.
Apesar dos avanços, especialistas apontam que a tecnologia sozinha não resolverá o “apagão de mão de obra”. Como destacou o médico-veterinário Leandro Trindade no Simpósio da Suinocultura de Mato Grosso (2025), fatores como liderança, reconhecimento e boas condições de trabalho têm peso decisivo na retenção de profissionais no campo. O futuro do agronegócio brasileiro, portanto, dependerá não apenas da adoção de IA e automação, mas também da capacidade de valorizar e qualificar seus trabalhadores, tornando o setor atrativo para as novas gerações.





